ÍNDIOS GUARANI MBYÁ: LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA, POPULAÇÃO, MIGRAÇÃO, TRADIÇÃO |
Pensar a história e a cultura brasileira implica, antes de tudo, refletir sobre os índios que aqui viveram e ainda vivem – ou melhor, sobrevivem. Segundo a Fundação Nacional do Índio, Funai, existem cerca de 460 mil índios vivendo em aldeias no Brasil, correspondendo a 0,25% da população brasileira. Entre os povos indígenas presentes no Brasil, os Guarani são estimados em 34 mil, subdivididos entre os Kaiowá (18 mil a 20 mil), Nhandéva (8 mil a 10 mil) e Mbyá (5 mil a 6 mil), de acordo com o site Povos Indígenas no Brasil. Atualmente, os Guarani podem ser encontrados vivendo entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul.
Contudo, há certa dificuldade de se contabilizar a população Mbyá devido à característica migratória desse grupo, pois os descendentes dos povos - que viviam na província do Guaíra, onde hoje se situa o Estado do Paraná – estão atualmente presentes em grande parte do território brasileiro. Para o lingüista Aryon Dall’Igna Rodrigues entre os idiomas da família Tupi-Guarani o Mbyá é o mais distribuído geograficamente, estando presente nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de também ser encontrado no Paraguai e na Argentina. O doutor em antropologia Aldo Litaiff afirma que “a vida do Mbyá é a história de suas viagens pelas aldeias onde moraram, e onde estão seus parentes. A cronologia desses Guarani é marcada pelos períodos de perambulação nas estradas, em contraposição às paradas nas aldeias”. Entre os índios Guarani, os Mbyá são considerados pelos estudiosos como os que mais preservam sua tradição, devido principalmente pelo fato desse grupo indígena ter se estabelecido em território que durante muito tempo foi inacessível aos colonizadores ibéricos e aos missionários jesuítas durante o início do século XVII. Dessa forma, tornaram-se conhecidos como “caaiguás” ou “cainguás”, ou seja, “índios da floresta”. A antropóloga Hélène Clastres afirma que “caaiguás que se mantiveram isolados no período colonial podem ser o grupo de onde se acredita que descendem os Mbyás". Provavelmente devido a essa história, os Mbyá, dentre os grupos indígenas Guarani, sejam os que melhor preservaram sua identidade cultural: “os mbiás são inegavelmente os que afirmam e tentam com o máximo rigor preservar sua identidade cultural”, afirma Hélène Clastres. Para esse grupo a religião e a língua são as principais formas de preservar sua identidade cultural, sendo a língua, conforme afirma Hélène Clastres, “o veículo pelo qual podem ainda firmar sua diferença, e isso explica que seja mantida secreta e ocupe um lugar privilegiado na vida cotidiana”. As crianças pequenas e as mulheres, principalmente as mais idosas, são monolíngües, ou seja, falam apenas o Mbyá. A religiosidade Guarani passa, sobretudo, pela procura da Terra sem Males, paraíso que os índios acreditam existir na Terra, onde seria possível chegar a ela ainda em vida, sem passar pela morte. Hélène Clastres afirma que os Guarani atribuem a esse lugar uma localização geográfica específica, sendo às vezes considerada a leste e outras a oeste. “Todo o pensamento e a prática religiosos dos índios gravitam em torno da Terra sem Mal”, enfatiza Hélène Clastres, sendo que os Mbyá é o que consideram mais significativo o mito do Paraíso na terra. A característica migratória dos Mbyá Guarani também diz respeito às crenças religiosas desse grupo indígena. Para Aldo Litaiff os índios Mbyá “migram em busca de terra de solo fértil e mata virgem, onde seja possível viver de acordo com as normas e valores de sua cultura, rezando e praticando os exercícios espirituais necessários para se alcançar o Paraíso”. Os índios Guarani de Santa Catarina são também fruto desses movimentos migratórios em busca da Terra sem Males. Em Santa Catarina os Mbyá estão presentes em Ibirama, no Alto Vale do Itajaí; no litoral, no município de Palhoça, distante da capital Florianópolis 15 km; e no município de Imaruí, localizado no sul do Estado, distante 22 Km de Imbituba e 110 Km da capital do Estado. Os Mbyá Guarani presentes hoje no litoral catarinense migraram do Paraguai para o Rio Grande do Sul provavelmente durante a década de 30, fundando uma aldeia no município de Viamão. Dessa aldeia, segundo a lingüista Marci Fileti Martins, migraram para o Estado catarinense há alguns anos fundando as aldeias de Maciambu e do Morro dos Cavalos ambas situadas no município de Palhoça. Dessas aldeias, alguns índios migraram posteriormente para o município de Imaruí, fundando a aldeia Tekoa Marangatu. Atualmente, um dos maiores problemas que os povos indígenas encontram é a questão do direito à terra, o direito a um espaço onde possam preservar sua tradição em meio à natureza, tão determinante em suas vidas. |
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Terra sem Males.
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